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Há mais de um
ano eu resolvi pesquisar a história de Novo Horizonte. Sabia que não seria
fácil porque as informações estavam dispersas e eu tinha que juntá-las, todas,
para montar o grande “quebra-cabeça”. Era um desafio motivado pela angústia de
ver os principais personagens da cidade morrendo e as histórias sendo
enterradas juntas. Uma iniciativa de registrar o passado se fazia urgente e,
como ninguém se prontificava a fazer, eu me senti na obrigação de tomar para
mim essa missão e, assim, garantir à posteridade o direito – e o privilégio –
de conhecer a trajetória do lugar que estará vivendo.
Não me achei
o mais preparado para isso. Os meus vinte e poucos anos me fizeram temer muito.
Talvez a falta de experiência me impedisse de entender certas coisas e me
privasse de uma “malícia”, que se conquista ao longo da vida e nos permite
encaixar melhor as peças do “jogo”. No entanto, o medo de ver a história
perdida falou mais alto. Lá fui eu aproveitar férias, feriados e alguns finais
de semana para enfrentar os quase 600 km que separam Novo Horizonte de Salvador
e ir a campo.
Conversei com
muita gente. Foram tantas as entrevistas que nem sei ao certo o número exato.
Algumas eu gravei, outras anotei em bloquinhos e umas outras guardei na
memória, normalmente porque aconteciam inesperadamente, na rua. Eu já estava
virando um chato porque queria saber de todo mundo quais as lembranças que
tinha da cidade de antes. Vivenciei experiências incríveis, revisitei alguns povoados,
fiz amizade com quem eu era apenas conhecido, ganhei lições de vida importantes
e o essencial: consegui juntar um material de pesquisa riquíssimo.
Como o fim do meu curso estava próximo, pensei
em transformar o meu desejo de documentar aquela história em um projeto
acadêmico, que eu pudesse apresentar na faculdade. Seria, também, uma maneira
de mostrar Novo Horizonte para os meus colegas e professores e divulgar o
município. Imaginando que aquela era a iniciativa mais genial do mundo,
apresentei um pré-projeto que foi aceito. Como fui inocente! A tal da malícia
me fez falta foi nesse momento.
A pesquisa
que durou mais de um ano virou um livro-reportagem (uma reportagem grande e
aprofundada) com mais de 160 páginas, incluindo anexo com fotografias e
documentos. Além disso, entreguei um memorial descritivo (equivalente a uma
monografia) com mais de 70 páginas, que explicava como se deu o processo de
produção, a partir de autores que serviram de base para entender questões
ligadas à emancipação de municípios e ao livro-reportagem.
Os seis meses
anteriores à entrega do trabalho foram de correria intensa e de uma dedicação
total que talvez eu nunca tenha tido por nenhum outro projeto. Esqueci de
festas, de diversão, de tudo. O foco era apenas naquele que era o meu presente
para a minha terra tão amada. Preciso dizer que nutro um amor incondicional por
Novo Horizonte que às vezes nem eu mesmo entendo. Quem sabe porque eu nasci em
um momento importante para a cidade, que marca a conquista da tão sonhada independência
de Ibitiara, e cresci diante de uma euforia, de um entusiasmo, de uma
autoestima, que tornavam a população apaixonada pela sua história.
Levei todo o
meu sentimento para o trabalho, mas com a responsabilidade de contar sempre o
“outro lado”, as coisas ruins, os episódios que ninguém quer se lembrar. A
apresentação foi marcada para o início de julho e eu tinha muita expectativa.
Quando o dia da defesa finalmente chegou, eu entendi o quanto eu tinha sido
inocente em levar a proposta para a faculdade. Como é que eu apresento para
pessoas que não conhecem Novo Horizonte, tampouco a sua história, um trabalho
sobre o município? Era óbvio que a avaliação seria feita a partir do que elas
“acham” que seja verdade.
Pela primeira
vez na vida, desde que comecei a estudar, aos cinco anos, eu fui reprovado. Os
avaliadores argumentaram que eu fui “tendencioso” porque aquela era uma visão
de quem está dentro da cidade, de quem “tem motivos para defender”. Além disso,
eles derrubaram o meu principal argumento, de que a emancipação foi boa para
Novo Horizonte. Disseram que não, que se um município não tem nem um hospital –
algo que cito no livro-reportagem como uma necessidade -, a separação do
território não pode ter sido boa. Como não, se até as pessoas contrárias à
emancipação que eu entrevistei se disseram arrependidas porque hoje reconhecem
que a autonomia político-administrativa elevou consideravelmente o nível da
cidade?
Qualquer um
que conhece Novo Horizonte e viveu a sua transição de distrito para município sabe
que os avaliadores estavam errados. Mas eu não quis brigar. Desde sempre,
aprendi que enfrentar professor é sempre uma luta perdida. Assumi a perda com a
cabeça erguida e com a consciência de ter me esforçado e me dedicado para
produzir algo imparcial e de qualidade, da forma como merecem meus
conterrâneos. A consciência, aliás, foi o que me salvou de toda tristeza e
decepção de ter visto jogarem um balde de água fria no projeto que era, antes
de tudo, um projeto de vida. Sei que o meu povo está do meu lado e concorda com
a minha argumentação e é isso que me importa, agora.
Decidi contar
esse episódio aqui para que uma satisfação fosse dada a todos aqueles que
acreditaram e me ajudaram na concepção do trabalho. Quero dizer que o desejo e
o projeto não morreram com a decisão da faculdade. Vou colocá-los um pouco na gaveta,
apenas e, em breve, volto a corrigir e reescrever algumas coisas, antes de
tentar a publicação do livro, que não há previsão de acontecer. De qualquer
modo, me coloco à disposição de quem deseja ter acesso ao material que juntei.
São fotos, documentos e entrevistas que recontam a nossa história e que
concretizam o meu maior objetivo: ter o passado documentado, registrado e
guardado a sete chaves.
Sendo assim,
missão cumprida!
Esta ai a maior prova que vc poderia dar, o primeiro passo de quem quer um novo horizonte...
ResponderExcluirParabens