Jornal ACOMARCA

segunda-feira, 17 de julho de 2023

PIATÃ – Altamirando Alves Rodrigues relata reminiscências da cidade, parabeniza e agradece homenagens prestadas as ex-primeira damas e ex-prefeitos.

Ouvindo áudios e vendo os vídeos que registraram as homenagens prestadas pela Prefeitura Municipal de Piatã, às ex-primeiras-damas do Município, incluindo minha madrasta Adalgisa Silva, resolvi expressar minhas reminiscências do tempo em que lá vivi. Antes, contudo, reitero parabéns e agradecimento a Prefeitura Municipal, pela iniciativa de entronar fotos e homenagear os ex-prefeitos em solenidade ocorrida na mesma data do ano 2022, aniversário de emancipação do Município. Lamentavelmente, nas duas oportunidades, as comorbidades das quais sou portador, impediram-me de ausentar de Salvador e comparecer às solenidades. Em 03 de outubro de 1954, meu pai João Hipólito Rodrigues, foi eleito prefeito do município de Piatã. Após assumir o cargo, em 15 de março de 1955, fixou residência na sede do município, à Rua José Querino, em imóvel propriedade de Zequinha marchante. O imóvel é de esquina e os vizinhos parede meia pela direita eram Chiquito e D. Virinha e a seguir, D. Regina, Apompo dos Três Morros e Antônio Pina. Mais à frente, Neco de Zé Querino. Na diagonal, Zé Querino e defronte a certa distância, Salvador, ajudante de Zé Raimundo, nos caminhões da Prefeitura e D. Dé. A família de Apompo só ocupava a casa em datas festivas. Chiquito e D. Virinha tinham os filhos, Rubem, Hélio e Vandinho. Antônio Pina e D. Judite: Beme, Gene e Henrique e D. Dé, Migdônio. Todos da minha faixa etária, mais ou menos, e meus amigos. Fora da nossa Rua, o meu primeiro amigo foi Zelito, apelidado Véi Queca, morador da Rua do Quebra Chifre e gari da Prefeitura. Zelito era irmão de Jurandir e Misael. Exceto Migdônio, com os demais, nossa maior diversão era jogar bola. Com Migdônio, corrida de cavalo no Campo de Aviação no Rosário. Matriculado na Escola Duque de Caxias, alfabetizei-me sob a regência de classe de D. Biá. Ensinavam no mesmo prédio, em outras salas e séries mais adiantadas, as professoras Cina e Zelinda, com formação magister em Caetité. Todas assistidas por Neli de D. Minda. Na escola fiz amizade com Arnaldo de Zeca, Robson, Dilson, Toe de Nonô, Maninho, os irmãos Aloisio e Genilson, Quido, os irmãos Aloísio e Zeca, filhos de Chico de Preto, Sinhô de Zequinha, Tõe Garrincha, Getúlio de Zé Pretinho, Zé de Dodô, Zé de César e muitos outros. Arnaldo de Zeca e Misael eram iguais Tom e Jerry. Viviam às turras, até que Misael deu uma dentada na mão de Arnaldo, que sangrou. Daí pararam de brigar. Os boleiros sub-10, eram Arnaldo de Zeca, Quido, Zé de César, Flores de seu Artur, e o filho de um Sargento PM, dos quais não recordo os nomes. Miguel Xavier, era razoável. Jogava sempre, porque era o dono da bola. Zelito Véi Queca, o bajulava sempre para ter lugar no time. Com alguns dos meus amigos, tinha uma particularidade. Aloísio de Chico de Preto, por exemplo, era catar estrume na Boa Vista, em carrocinhas de madeira feitas por Janoca. Janoca irmão de Lázaro, era artesão de mão cheia. Confeccionava carrinhos de madeira em miniatura, perfeitos. O estrume era amontoado na porta de casa e quando atingia quantidade razoável eu o vendia ao meu pai. A compra era mais incentivo para o trabalho. E o com o dinheiro recebido eu comprava chocolate douradinho e paçoca de amendoim no Bar de Gustavo. Horacinho e Carlos, filhos de D. Magnólia e Horácio, eram crianças pequenas e o que os caracterizavam era o agasalho com capote azul, bico ortodôntico na boca, indo e vindo entre a casa deles e da Avó D. Maroca, sempre sob os cuidados da babá Valdete de Sinhá. Os filhos de Semíramis e José Jones, Euvaldo e Nelson, também crianças pequenas e Carlos, como dizíamos na época, de meu tope. Carlos, meu amigo e companheiro para os encontros com as namoradinhas. A dele que ainda não era Cecê, não devo falar o nome porque é casada e mora em Piatã. Eu, mais volúvel, tinha duas: Lai de D. Altair e Romilda de D. Dadinha. Romilda, não sei onde mora e Lai as vezes encontro em Rio de Contas, e Carlinhos, seu esposo, meu amigo, sabe desse namoro ingênuo. Gosto muito de cavalo e marcava a hora para assistir seu Nezinho Viana e seu filho adotivo, Leosário (Losa), cavalgando em animais da raça Manga Larga, um tordilho e outro alazão, marchadores de primeira linha. Iniciavam a cavalgada na frente da casa de seu Nezinho, iam até à frente da Igreja Matriz, desciam como se fossem para o Baú, mas, o objetivo era outro. Passar pela frente da casa de Didi Prado, para pirraçá-lo, porque, embora colegas de trabalho no Correio eram inimigos pessoais. De lá subiam para o Rosário e desciam várias vezes. Meu pai alugava a manga da paróquia, atrás da Igreja Matriz e uma das minhas tarefas era buscar a vaca, à tardezinha para o curral no fundo do quintal de Heráclito, já na Rua Zé Querino. Heráclito era o dono da única Pensão na cidade. Outra tarefa era buscar água no Machado, em companhia de Zé do Morrinho, hoje Inúbia, que morava conosco. A condução era em dois ou quatro carotes, no lombo do jumento. Essa mesma tarefa era cumprida pelos irmãos João e Zé Pequi, migrados de Rio de Contas, daí o apelido, que prestavam serviços gerais na casa de Horácio Matos. Chicaboa de Enedino para outros consumidores e Né, também migrado de Rio de Contas, para o casarão dos Soares e Alfredinho. Né carregava a água em latas de querosene e o sabugo envolvido em molambo não as vedava totalmente, vazando no mínimo um quarto durante a condução. Diversões inesquecíveis: a galinha gorda de moedas que o padre Homero fazia depois do catecismo dominical; a Malhação do Judas no Sábado de Aleluia, boneco confeccionado por Generosa e conduzido do Rosário até a Praça, por seu filho Epitácio, dançando, sob os acordes da filarmônica onde se destacava seu Bioco tocando o tuba; a queda que me deu Getúlio de Zé Pretinho, no campo do Rosário. Getúlio, meu amigo, era esguio, muito calmo e não sei por qual razão, achei, como diz o pessoal, de zoá-lo. Ele perdeu a paciência e como se pega uma pena, pegou-me, suspendeu e me jogou no chão e só não me surrou porque não quis; os passeios promovidos pelos professores, para o Piauí, no sítio de seu João, pai de uma de nossas colegas e no Carvalho, propriedade dos Soares. Quem nos assistia era Neli de D. Minda e durante a caminhada entoávamos hinos cívicos e toadas, como a Sereia. Até metade da fila cantava: eu morava na areia e o restante completava: sereia e assim por diante. Não obstante na voz de crianças, nos encantavam. No sítio de seu João tinha a cagaiteira e seu fruto, a cagaita, consumido em excesso, provoca leve torpor. No Carvalho, gostoso era ouvir o ranger do bambuzal, que sob o vento parecia lamentar e nos dizer algo, tristonho e saudoso; o pomar de D. Raquel no Rosário: pêssego, manga, goiaba, maçã, uva, enfim, frutas que produzem bem no clima frio; a garapa de cana, no sítio Bau, dos Viana e o côco araticum vendido na feira de sábado, por Zefina do Gerais. O primeiro picolé que saboreei foi em casa de D. Semíramis. Ela tinha geladeira a gás e preparava picolé de variados sabores, principalmente groselha e nos ofertava na merenda. Soube do seu passamento ontem, em Seabra. Pesaroso, imagino a dor de seus familiares e oro ao Pai Celestial para lhes dar a força da aceitação. Ainda sob o futebol, na seleção de adultos, os craques eram: Gustavo, Valter Soares, Mirinho de Agenor Rego, Lio de seu Alcides, Viana, duble de músico sopranista e jogador de futebol, Neli de César e Passarinho. Aqueles que do umbigo para baixo valia tudo, na verdade, porradeiros: Zezito Soares, Maneca de seu Alcides, Zavim, Teté de Preto, Osmar Rego e meu padrinho Zelito Soares. Os que constratavam o fino traje e o fino trato com o maltrato da bola: pernas de pau mesmo, Didi Soares e Zito de César. Das 20 às 21 horas, em noites alternadas, Dagmar Soares operava o serviço de alto falante da Prefeitura, instalado no prédio da Sociedade e abria o programa com as iniciais SPM e o prefixo com a música Pé de Alecrim, interpretada por Cascatinha e Inhana.. São recordações indeléveis da minha vida em Piatã e que neste momento estão me levando a plagiar Leandro e Leonardo e cantar: desculpem, mas, eu vou chorar. Estou em lágrimas.

Um comentário:

  1. Texto muito bem elaborado, percebe-se também o quão é prodigiosa a memória do meu amigo Alramirando, detalhista ao extremo na composição das lembranças de outrora. Me fez chorar também Miranda. Fiz uma bela viagem ao passado!

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