Jornal ACOMARCA

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Teclar, amar e largar

Por Erikson Walla
eriksonnh@hotmail.com


À Eville, minha irmã querida, que é da geração da internet e que tanto amo

Um conhecido começou a namorar uma menina e falava com ela mais pela internet do que pessoalmente, o que não é de se estranhar, hoje. Mas, com certo tempo de namoro, ele decidiu evoluir e passou a ligar para ela. O pai da menina, um tipo conservador que não queria que ela namorasse por tão cedo, desconfiou e ameaçou-a, dizendo:

“Escolha: ou ele ou a internet!”. O engraçado é que ele não ameaçou negar o seu amor de pai ou não mais dar dinheiro. O velho, esperto, decerto já sabe o que representa as novas tecnologias na vida dessa nova meninada e teve certeza que isso ia gerar uma grande dúvida na filha.

Ela ficou arrasada. Como o pai podia pedir que decidisse entre suas duas maiores paixões? O jeito foi entrar no MSN e ter uma conversa com o menino. O tom foi mais ou menos assim:

- Eu sei que a gente nem começou alguma coisa direito, mas...

- Quer que eu te ligue...?

- Nãooooo!

- E o que foi?

- É que pai descobriu tudo e ameaçou tirar a internet daqui de casa. Vou ter que terminar com você.

- O quê? Você está me trocando pela internet?

- Mas você não me entende...!

Eu entendo a coitada da menina. E sei que os leitores que nasceram antes do fim da década de 80 estão achando o cúmulo. Mas não deveriam.

Pregar que sua época foi a melhor de todas e que os “jovens de agora” nunca conhecerão o bom da vida é uma prática comum de quem não quer aceitar a idade. Acusar a juventude de perdida e dizer que “de primeiro” as pessoas eram mais felizes também. Será que é isso mesmo?

Os leitores que nasceram antes do fim da década de 70 dirão que sim, certamente. Mas essa afirmação não é tão simples assim. Somos fruto de nosso tempo. Quer ver?

A televisão, que antecede o computador, chegou ao Brasil na década de 50, mas teve bastante popularização em 80. A novidade, que teve grande influência no comportamento do brasileiro, era [e é] um fenômeno. Será que alguma menina dessa geração – a mesma de minha mãe, que era jovem nessa época - trocaria a televisão pelo namorado, caso o pai fizesse a mesma ameaça? Duvidêodó!

Quem é que ia querer perder as novelas da Globo, como “Roque Santeiro”, “Ti Ti Ti”, “Selva de Pedra”? Ou as da Manchete, que levou ao ar clássicos como “Dona Beija” e “Helena”? Quem ia viver sem os programas de domingo do SBT? Perder a chance de viajar o país e o mundo sem precisar sair de casa?

O rádio, que surgiu na década de 20, teve seu momento de glória na década seguinte. Foi uma grande febre no país e teve o poder de reunir a família brasileira em volta dos aparelhos, todo dia. É bem a década de 30 a época de minha avó. E também duvido que as meninas da geração dela trocariam o rádio por qualquer namorado!

Isso significaria perder as radionovelas, os festivais de música, os programas de auditório, as apresentações dos cantores e cantoras do rádio e as canções de amor. Não, elas não abririam mão desse privilégio. Cada tecnologia que surge tem feito uma revolução no nosso modo de ser e estar no mundo. E por que essa implicância com os pobres internautas?

Se apaixonar por um computador pode ser muito mais fácil do que se apaixonar por uma pessoa. Ora, computador resolve os nossos problemas, nos diverte e nunca pede para discutir a relação, assim como a Tv e o rádio. Alguém vai dizer que não?

Entender as novas gerações é um exercício de se colocar no lugar delas para se dar conta de que o que muda são apenas as tecnologias e o tempo. Nós, humanos, somos os mesmos, sempre!

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