Por Erikson Wallas
eriksonnh@hotmail.com
Um dos assuntos mais comentados nos últimos dias, sem
dúvidas, foi a chegada de Luiza do Canadá. O feito foi pauta em vários jornais
do país, nas redes sociais e nas ruas, o que rendeu à menina de dezessete anos muito
mais do que quinze minutos de fama. A repercussão trouxe também uma discussão
acalorada sobre o caráter político dessa nova juventude, que foi acusada de
apática e de interessada apenas em futilidades.
Será?
Tudo começou com a veiculação de um comercial de TV
estrelado pela família de Luiza. O pai, um comunicador conhecido na Paraíba e
membro da elite daquele estado, foi contratado por uma construtora para falar
dos benefícios de um empreendimento residencial que estava sendo lançado. Ele
reuniu a família toda, menos Luiza que não pôde estar. Então, pra não perder a
chance de se promover, como um bom grã-fino brasileiro, colocou a foto da filha
ao lado e revelou que ela estudava no exterior, soltando o bordão mais usado
nesse verão: “Todo mundo está aqui, menos a Luiza, que está no Canadá”.
Pronto. Foi o suficiente para a frase tomar conta, primeiro
dos paraibanos e, depois, dos brasileiros. Só se falava nisso em todo canto. Virou
piada nacional. A ideia era adaptar a cena às situações cotidianas, como fez o
cantor Lenine, por exemplo. Em um show, ele abriu assim: “Todo mundo veio,
menos a Luiza, que está no Canadá”. O sucesso foi tão estrondoso que Luiza
voltou ao Brasil para cumprir uma agenda de celebridade que já tinha, ainda sem
entender bulhufas. A volta foi ainda mais apoteótica.
Com a poeira ainda alta, vieram as críticas. O conceituado
jornalista Carlos Nascimento, que é apresentador do Jornal do SBT, usou o
telejornal para lançar uma bomba: “Luiza já voltou do Canadá e nós já fomos
mais inteligentes”. Como o movimento surgiu na internet, que ainda é um reduto
de uma maioria jovem, foi inevitável associar essa “burrice” à nova juventude
brasileira. Comentou–se muito sobre a falta de senso crítico dos novos jovens e
da comodidade em que se colocam diante do cenário político nacional.
Seriam justas essas acusações? Não quero defender a minha
geração, mas é evidente que fomos mal-interpretados. Nessa história toda,
faltou às gerações mais antigas um maior senso de humor e, além disso, uma
atenção às entrelinhas. Sabe por quê? Toda essa repercussão foi uma crítica
nossa a essa grã-finagem brasileira que é falida. Ah, nós não temos mais
paciência pra elite, pra aristocracia, pra essas pessoas megalomaníacas que
vivem de aparência e se acham superiores pela situação sócio-econômica que
possuem. A gente estava rindo do pai de Luiza, que não precisava dizer que a
filha estudava no Canadá. Ele queria dar um tapa na sociedade e nós devolvemos
com sarcasmo. Humor também é uma forma de protesto, saibam!
Isso não é crítica? Isso não é política?
Há um ideal de juventude que precisa ser quebrado. Pra muita
gente, ser jovem é ler as seções de política dos jornais, formar grupos de
esquerda e sair pelas ruas protestando, de preferência pedindo liberdade. Mas
os tempos são outros, gente! O Brasil não vive mais sob o comando de regimes
autoritários e a liberdade política desejada já está aí. Nós ainda precisamos
pintar a cara e sair com cartazes pelas ruas? Temos outros meios de protesto,
temos outra mentalidade, não somos aquele “sem lenço e sem documento, num sol
de quase dezembro”, da canção de Caetano Veloso, que tão bem representou a
juventude que lutou contra a Ditadura Militar instaurada no país de 1964 a
1985.
E por falar em Caetano Veloso, esses dias perguntaram pra
ele justamente sobre essa suposta apatia da juventude contemporânea. Ele
discordou piamente sobre isso e protestou contra esse conflito de gerações.
Para o artista, os jovens de outrora foram à luta porque foram convocados por
uma grande causa e que, agora, vivemos no Estado democrático conquistado,
estamos satisfeitos e não vislumbramos outro sistema. “Se o Brasil precisar de
novo, essa juventude vai à luta porque ela está aí sempre preparada, esperando
por um chamado”. E ele sabe o que diz, porque tem propriedade de causa.
Viva a nova juventude, que é nova em tudo!
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