Jornal ACOMARCA

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Amor que se prova

Quando ela estava prestes a completar 23 anos de idade, teve que começar a escolher pelo seu quinto noivo. É que ela tinha consigo uma regra clara: trocar de marido, em média, a cada quatro anos. O máximo que ficou com um foi durante oito anos. Para ela, marido tem que ser alguém pra cuidar de tudo, e cuidar bem, talvez por isso é que não tem tido sucesso. Capacidade de gerenciar é uma virtude de poucos.

Mas dessa vez ela estava otimista. Bons ventos pareciam se anunciar. Então, fez saber que já estava na hora de trocar de marido. Tratou logo de impor: Dois pretendentes se enfrentariam pra disputar seu coração e ter o privilégio de administrar os seus bens e cuidar dos seus entes. A proposta mexeu com muitos, pois envolvia dinheiro e poder.

Como só dois podiam participar, não havia outro jeito, era preciso entrar em um consenso. Um dos candidatos já foi logo se promovendo e preencheu uma vaga, pois tinha o apoio de um ex-marido dela, que buscava um sucessor. Faltava, então, a segundo, que gerou muitos falatórios e curiosidade.

Comentava-se que dois irmãos bem diferentes estavam brigando pra ser o pretendente que faltava. Um era mais velho, mas com o espírito jovem. Era articulado, politizado e tinha uma história de conquistas de dar inveja a qualquer mortal. Tinha conhecimento do mundo, era sensível e o melhor: amava a mulher que pretendia.

O outro era o oposto: apesar de se gabar de ter noções de administração, era antisocial, não era simpático e não se enturmava fácil. Não era possível imaginá-lo liderando reuniões, discutindo com pessoas e ouvindo-as na tentativa de resolver um problema. Visivelmente, não estava querendo se casar por amor.

Embora fosse uma disputa apenas pelo direito de ser um pretende, o duelo teve uma grande repercussão. Como o irmão mais velho era uma pessoa querida na comunidade, logo conquistou a torcida de todo mundo. Era unânime a opinião de que ele tinha o perfil ideal para o marido procurado por ela, até mesmo o pretendente já definido, que estava se borrando de medo.

Todos estavam convencidos, menos o irmão mais novo e seus poucos amigos. Eles achavam que a limitada noção de administração era suficiente para gerir os bens, a família e o coração de uma mulher tão importante. Mas não era. Antes de tudo, era preciso sensibilidade e sabedoria. Qualidades que só o mais velho tinha.

De tão sensível e sábio, o irmão mais velho não suportou a pressão e decidiu abandonar a disputa, para não parecer à mulher amada que era ganancioso. Ele não queria conflitos e, além disso, temia que, caso disputasse, poderia se desgastar muito, pois o processo de escolha nem sempre costumava ser tranquilo e justo. A sua torcida ainda lamenta muito, mas entende que aquela foi a melhor decisão.

A escolha final do marido ainda não aconteceu. Mas, qualquer que seja, não deverá alterar muita coisa para o irmão mais velho. Um segredo: eles sempre foram amantes e a mulher também nutre um amor por ele. A intenção dele era oficializar a união respeitando as regras dela, que o obrigavam a participar do processo seletivo. Sem a possibilidade de serem, agora, marido e mulher, eles continuarão amantes, pois o amor independe de documentos e colocações.

No final dessa história, o que muita gente deverá chamar de traição e medo, eu chamo de prova de amor.

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