Jornal ACOMARCA

sábado, 14 de maio de 2011

Do que tanto rimos?


Por Erikson Walla
eriksonnh@hotmail.com

Escola Tasso da Silveira, Realengo, Rio de Janeiro. 12 crianças mortas, outras 12 feridas, vítimas de um atirador que é ex-aluno da escola. Era uma quinta-feira, o Brasil parado, acompanhando as últimas notícias de uma tragédia que só se via, até então, em países de primeiro mundo.

Notícias que ganharam um grande espaço nos jornais. Foram muitas entrevistas com professores, alunos sobreviventes, familiares das vítimas e do agressor, especialista de segurança e psiquiatrias. Mas, depois de uma ampla cobertura nos primeiros dias do massacre, o que se ouve agora é o silêncio da imprensa.

E, depois de um mês da tragédia, restou uma pergunta que permaneceu sem resposta: quem foi Wellington de Menezes?

Pouquíssimos jornais se deram ao trabalho de investigar e explicar quem era o atirador das criancinhas. Afinal, se os meios justificam os fins, era preciso conhecê-lo. Mas conhecer o Wellington ser humano, que tem um RG, que tem uma família, que foi uma criança inocente.

Minha intenção não é justificar o crime, aviso. O que pretendo justificar é a criminalidade. Como já trouxe em outra crônica, teóricos da criminologia atestam que um criminoso é fabricado. Portanto, é estranho ver a sociedade apedrejando tanto, e com tanta “moral”, o atirador de Realengo, sendo que foi ela quem deu à luz ao “monstro”.

Em depoimentos, ex-colegas de sala de Wellington Menezes disseram que ele era excluído e discriminado. Era tido como o bobão da turma e que todo mundo queria “zuar” com a cara dele. Até as meninas brincavam, fingindo lhe dar bola, só para ridicularizá-lo no meio de todo mundo. Por mancar de uma perna e por ser franzino, Wellington também ganhava vários apelidos.

Para essas ofensas contra uma vítima indefesa, principalmente no ambiente escolar, dá-se o nome de bullying. A palavra foi muito repetida durante a cobertura do caso, mas as pessoas ainda não tiveram dimensão do que ela representa. O resultado já está aí: cada vez mais as pessoas estão emocionalmente doentes.

Vizinhos de Wellington afirmaram que ele vivia isolado e nunca era visto fazendo algo em conjunto. Sempre sozinho. Pensando. Como já dizia a sabedoria popular: mente vazia é a oficina do diabo. Junte-se a isso, a ausência de uma família presente, a começar pelo fato de ele não ter sido criado pela mãe biológica. Ela tinha problemas psicológicos.

Não desconsidero a dor das pessoas que perderam seus familiares no massacre. Mas não se pode nunca negar que Welington de Menezes foi também uma vítima. E era preciso voltar a atenção também para ele, pois muitos outros Weligtons estão se formando, agora, à luz de nossos olhos.

Nosso tempo está se consolidando como a época da gozação, da febre dos programas de humor, que ganham audiência brincando com o que é diferente e sério. Isto é contraditório e grave. Nunca se teve tantos problemas psicológicos e emocionais como agora. São tantas as síndromes, os transtornos, as psicoses...e não entendo porque se ri tanto.

Termino o texto, sem graça, reforçando o pedido feito em outras crônicas: sejamos tolerantes. Se não por bondade, por inteligência, ao menos. Em um mundo capitalista, isso vem quase como um investimento.



Nenhum comentário:

Postar um comentário